Antigamente, o Dia da Mãe celebrava-se, em Portugal,
no dia 8 de dezembro, mas, há alguns anos atrás, por imposição da Igreja, esta
data festiva foi alterada para o primeiro domingo de maio, o qual comemorámos
este ano no, ainda bem recente, dia 4 de maio.
O Dia da Mãe talvez seja, de todo este género de dias
festivos, aquele que movimenta maior número de pessoas e gera menor
controvérsia.
Afinal, todos temos, ou tivemos, uma Mãe e Ela é
símbolo de vida, carinho, proteção, amor, dádiva e sacrifício.
Durante séculos o papel de cuidadora e educadora
coube, por excelência, à Mãe, sendo considerada, pela grande maioria, o
melhor refúgio, o porto seguro, aonde se pode sempre voltar.
Hoje em dia, essas atribuições estão mais repartidas
entre pais e mães, pelo menos nas sociedades ocidentais, mas a Mãe é
ainda, na maioria dos casos, a principal cuidadora, educadora e dispensadora de
carinho e atenção.
O papel de Mãe é, muitas vezes, um papel ingrato, nas
suas diversas facetas. Destas talvez a mais ingrata seja a de ajudar a
fortalecer as asas dos filhos para que voem para fora do ninho,
prepará-los para o Mundo, com todas as suas injustiças,
ambivalências, problemas.
Paradoxalmente, o Mundo para o qual os empurramos é,
também, o Mundo do qual os queremos proteger e defender.
Se há quatro ou cinco décadas atrás a maior
preocupação das mães portuguesas era a Guerra Colonial e a iminência da ida dos
seus filhos para o Ultramar, hoje, com a globalização e a crise, esta
passou a ser com a sua partida, sem previsão de regresso, para outros países ou
continentes, em busca de um futuro melhor.
Pelo que, mais do nunca, o paradoxo se coloca, pois,
agora, não só temos que dar-lhes os instrumentos para criarem a sua
independência e voarem para fora do ninho, como, muitas vezes, nos vemos
obrigadas a apoiá-los, quase coagi-los, para que vão para bem longe de nós e
digam adeus ao país que os viu nascer.
Divididas entre as anunciadas saudades, os temores de
que algo corra mal e a "obrigação" de contribuir para que tenham um
futuro melhor, vivemos com o coração nas mãos, fazemos "investigações
policiais" acerca dos seus países de destino, e procuramos reconfortar-nos
com a esperança de estarmos a fazer o que é mais acertado e melhor para
os nossos filhos.
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Artist - Ingrid Tusell |
Porque a "profissão" mãe é um "trabalho
que nunca termina, ou nunca deveria terminar, pois, de alguma forma, para nós
os nossos filhos serão sempre aqueles pequenos seres indefesos que trouxemos ao
mundo, alimentámos, educámos, acarinhámos, amparámos, (...) e porque nem a
globalização, nem a crise, se compadecem com os nossos corações inquietos,
talvez esta seja uma boa altura de criarmos uma organização de Mães.
Aqui lanço o repto a todas as mães, que se veem
obrigadas a ver partir os seus filhos, para terras distantes, para que se unam,
apoiando-se umas às outras, partilhando experiências e conhecimentos.
Se para umas é relativamente fácil visitar os filhos,
periodicamente, nos países onde estes se encontram deslocados, para outras,
pelas mais diversas razões, essas visitas serão raras, complicadas ou mesmo
impossíveis, pelo que essa partilha, apoio e entreajuda poderá tornar-se algo
extraordinariamente valioso.
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Artista David Agenjo |
UBUNTU - "Eu sou porque nós somos"