Um ato tão simples e aparentemente tão praticado: o olhar-se no espelho. Você já parou frente ao espelho e se dispôs a se olhar verdadeiramente? Olhar dentro de seus próprios olhos e fixar-se sem se sentir perturbado, ficar olhando para si mesmo e permitir que seus sentimentos aflorem, sem julgamentos, sem críticas, apenas olhar?
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Pois tenho observado que isso é muito pouco praticado. É muito raro. O olhar-se no espelho é para ver se a mecha de cabelo está no lugar querido, se a roupa está combinando e sem vincos desnecessários, enfim, observar coisas ao nosso redor, mas não a nós mesmos.
Sufoco por Leila Proença |
Olhar-se no espelho para se ver refletido aos próprios olhos, por incrível que pareça para a maioria das pessoas é muito "pesado". Mirar em seus próprios olhos é como penetrar em sua alma e ter revelado tudo que lá possa estar.
Em momentos que, como terapeutas, pedimos ao cliente que se observe frente a um espelho e perceba o que está sentindo, o relato é de que "não tive tempo"; "não lembrei"; "me senti meio bobo"; e alguns poucos dizem: "senti uma ansiedade muito forte"; "não consegui ficar me olhando"; "parece que uma vergonha tomou conta de mim". Um forte constrangimento se manifesta.
Interessante que
todos se colocam como quem está buscando o autoconhecimento. Se o
autoconhecimento é o perceber-se como realmente se é, então, não é
contraditório o fato de se ter dificuldades em se olhar, começando pelo
concreto, o reflexo de sua imagem física?
Exatamente. O espelho é apenas o reflexo do que se coloca frente a ele. E quando nos vemos refletidos sem a distorção da verbalização, sem a condição de justificativas e explicações, então nos assustamos. Há um grande medo pelo que poderemos ver. Daí a famosa frase "ver sem enxergar".
Quando
alguém se coloca frente ao espelho, e se fixa em sua própria imagem,
está se abrindo para começar a se enxergar como realmente é. Ao "entrar"
em seus próprios olhos é o vasculhar de sua vida interior, mexendo em
sua existência interna, deslumbrando sentimentos e emoções adormecidas
da consciência, mas não do próprio ser. Experiências já não lembradas,
mas atuantes e marcantes, agindo em nossas ações, sem que se dê a elas o
mérito.
Em academias, pessoas passam até horas a se admirarem
frente aos espelhos. Elas dirão que esse artigo não faz sentido. Pois
peço apenas que parem de olhar para seus músculos, suas coxas, cinturas e
olhem diretamente para seus olhos. Fixem-se neles. Entrem dentro de si
mesmos. Não precisam me dizer nada, apenas tirem suas conclusões.
Muitas
vezes, o terapeuta é apenas um espelho onde o cliente obtém através de
suas colocações (do terapeuta) o reflexo do que está apresentando a ele,
mas nem sempre o cliente aceita o que lhe é mostrado como algo seu.
Freud
apresentou a projeção como um dos mecanismos de defesa. O indivíduo vê
no outro aquilo que, de fato, é seu. Apenas não identifica isso como
tal. Façam um exercício de analisarem verdadeiramente o que os leva a se
sentirem tão incomodados com alguns comportamentos do outro e, sem
prevenções, poderão identificar que o que está irritando tanto vocês são
características suas que estão sendo vistas no outro.
Olhar dentro
dos próprios olhos é penetrar por um portal onde só você (e algumas
raras pessoas) pode fazê-lo. Lembram-se de pessoas que quando as olham
parecem que a estão desnudando? Alguns as descrevem "como se estivessem
entrando na gente".
Todos dizem querer se transformar. Mudar,
lógico, para melhor. Pois façam o exercício diário: arrumem um espelho,
mais ou menos de trinta centímetros de largura por quarenta centímetros
de comprimento, sentem-se frente a ele por uns cinco minutos, em
silêncio e olhando para dentro de seus olhos. Deixem suas mentes soltas.
Façam em um local calmo e sem ninguém a observá-los, caso contrário, se
sentirão expostos e não se permitirão atingir a soltura necessária.
Repitam isso diariamente. Apenas cinco minutos diários. Não há
desculpas, pois elas apenas fazem parte dos bloqueios que nos impedem de
nos enxergarmos.
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