"Penso que quando morrer, eu me putrefarei e nada em mim sobreviverá. Não sou jovem e amo a vida. Mas desdenharei os calafrios de terror ao pensamento da aniquilação total. A felicidade não é, absolutamente, menor e menos verdadeira, apenas porque deve, necessariamente, chegar a um fim, e tampouco o pensamento e o amor perdem seu valor, por não serem eternos." Bertrand Russel
Em "Porque não sou cristão", livro publicado na década de 50, do século XX, Bertrand Russel, filósofo, matemático e escritor britânico, reuniu uma série de ensaios relativos à religião cristã, através dos quais pretendia demonstrar por que razão não era e não deveríamos ser cristãos.
"A religião é o ópio do povo" (em alemão "Die Religion ... Sie ist das Opium des Volkes") é uma citação da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (em alemão, Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie) de Karl Marx, obra publicada em 1844, a qual aparece no seguinte contexto:
"É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou voltou a se perder. Mas o Homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu point d'honneur espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião.
A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo.
A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola.
A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem os suporte sem fantasias ou consolo, mas para que lance fora os grilhões e a flor viva brote. A crítica da religião liberta o homem da ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não circula em tomo de si mesmo.
Consequentemente, a tarefa da história, depois que o outro mundo da verdade se desvaneceu, é estabelecer a verdade deste mundo. A tarefa imediata da filosofia, que está a serviço da história, é desmascarar a autoalienação humana nas suas formas não sagradas, agora que ela foi desmascarada na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma-se deste modo em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, e a crítica da teologia em crítica da política."
A comparação da religião com o ópio não é original de Marx e já tinha aparecido, por exemplo, em escritos de Immanuel Kant, Herder, Ludwig Feuerbach, Bruno Bauer, Moses Hess e Heinrich Heine. Este último, em 1840, no seu ensaio sobre Ludwig Börne escreveu:
"Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança."
Moses Hess, num ensaio publicado na Suíça em 1843, também utilizou a mesma ideia:
"A religião pode fazer suportável [...] a infeliz consciência de servidão... de igual forma o ópio é de boa ajuda em angustiantes doenças."
Fui educada no cristianismo, mais concretamente, na religião católica, mas, quando cheguei à juventude, altura em que pomos tudo em causa, somos contestatários e firmamos a nossa personalidade, tomei contacto com as diferentes posições relativas à religião, desde a dos ateus e agnósticos, até às de outras religiões ou variantes da minha, tentando "desvendar a verdade" e criar o meu próprio quadro de valores, pelo qual regeria a minha vida e escolheria o meu caminho.
Ainda que tenha consciência de que em nome de Deus, Alá ou outras divindades, já se fizeram e continuam a fazer as maiores atrocidades.
Ainda que compreenda as razões e dúvidas apresentadas por agnósticos e ateus.
Ainda que concorde que, muitas vezes, a religião é utilizada, politica e economicamente, para "embalar" e adormecer" o povo.
Ainda assim, as conclusões a que tenho chegado sempre, ao longo da minha vida, são de que existe algo mais, algo superior à realidade superficial em que vivemos.
Não vejo Deus, o Ser Superior, o Universo Inteligente, ou como lhe queiram chamar, como uma espécie de um Rei, velho, de longas barbas, ceptro na mão e coroa na cabeça, esperando que o adoremos, obedeçamos e temamos, nem tampouco como um Deus cruel que nos pune e aterroriza com os seus castigos divinos, nem como um mágico que cria ilusões e tira "coelhos da cartola".
Para mim, Deus é o Todo inteligente. E cada uma das partes é igual ao Todo.
Muitos afirmam que só temos determinadas crenças porque ainda não somos capazes de explicar cientificamente certos acontecimentos.
Eu contraponho que, até porque Deus não é um mágico, tudo o que nos rodeia poderá, um dia, ser explicado cientificamente. No entanto, a ciência não desacredita Deus, não o torna menor ou menos importante.
Deus criou um Universo que pode ser explicado cientificamente e que obedece às leis da física e da matemática. Mas, Ele próprio é Universo e, provavelmente, transcende mesmo esse Universo.
O Universo, o Mundo ou os Homens, são criações de Deus. Todos temos no interior de nós próprios os meios para chegar ao conhecimento, à sabedoria e a Deus.
O grande Desafio da Vida é exatamente o de fazer esse Caminho de regresso à Sabedoria e a Deus.
UBUNTU - “Eu sou porque nós somos”
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